quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Saudosismo e a Fotografia

     No final do ano passado, foi anunciado ao mundo o recorde da fotografia com a maior resolução já vista, 26 gigapixels. Se considerarmos que  uma máquina fotográfica moderna comum, para uso doméstico chega a ter 8 megapixels de resolução, então essa fotografia tem 3, quase 4 mil vezes mais pixels de resolução.
     Me pergunto se alguns satélites já não fazem algo semelhante... mas enfim, esse não é o foco.
     Cada vez a tecnologia avança e nos surpreende mais e mais, cada vez os computadores ficam menores, tudo está mais prático, mais informatizado, tudo e todos estão conectados em rede, exatamente como previam os primeiros idealizadores da internet.
     Hoje, é possível ter acesso ao inimaginável na tela do computador. Fotos tiradas há segundos já estão na rede. Imagens antigas podem ser escaneadas. Em processos rápidos todas as imagens já passaram por um upload e estão salvas e seguras dentro de algum servidor.
Muito se fala do fim do livro, por causa da tecnologia dos e-books, mas e o fim da fotografia como conhecemos? Será que não está correndo o mesmo risco? Será que não merece a mesma discussão?
     Quantas pessoas hoje em dia ainda revelam fotos? Poucos são os que optam por manter os dois suportes. A praticidade de lidar com a fotografia digital é inegável, e por isso mesmo, o tradicional formato corre este risco. Os filmes já não são produzidos na mesma escala de alguns anos atrás. Pouco a pouco as grandes empresas anunciam o fim de determinadas linhas de filme fotográficos.
     Nikon, Polaroid, Fujifilme anunciaram que iriam retirar de circulação várias linhas de filmes.  Na mesma época, Em setembro de 2009, a Kodak seguiu os passos, e entre outros, anunciou o fim do Kodachrome.
     Fotógrafos profissionais e amadores utilizam máquinas digitais. O escasso público saudosista não compensa os gastos que as empresas teriam para manter determinados produtos. "(...) 'entusiastas, curiosos e “pseudoartistas hype'. Esse público não representa uma parcela considerável de consumidores que justifique a produção de uma gama tão grande de filmes" (BECKER, 2009).



Famosa fotografia da menina afegã que foi capa da National Geographic na década de 80, foi tirada com um filme Kodachrome.















     Mesmo que se preserve a informação, na versão digital, o suporte não é o mesmo, longe disso, existem ínumeras diferenças. Cruz e Oliveira (2009) afirmam que "fotografia digital não é mais uma imagem da realidade, mas sim uma imagem da imagem". Além disso, ao entregar uma fotografia em papel e aglutinante, ela é alem de uma representação, um objeto, que tende a ser único. Ao contrário do que ocorre com as diversas cópias que podem ser feitasdigitalmente.
Além disso, o mesmo texto afirma que o digital faz com que a fotografia perca uma de suas principais características, a fixidez. Ou seja, a possibilidade de aproximar, mudar a resolução, inverter cores, e todas as ferramentas de edição, tiram um dos principais aspectos da fotografia, que é a captura da imagem.
São suportes diferentes... as primeiras fotografias eram compostas de nitrato de prata, placas de estanho, vapor de mercúrio (daguerrótipo), passando pelo papel coberto de cloreto de prata, para hoje chegarmos a evolução da fotografia medida e formada por pixels.
É a transformação inevitável que o tempo e a tecnologia trazem.
Para os saudosistas, vai sobrar apenas a saudade mesmo.
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Referências


BECKER, Guilherme. Fim da fotografia com filme? Disponível em: <http://desconversandoafotografia.wordpress.com/2009/09/03/fim-da-fotografia-com-filme/>. Acesso em 21 set. 2010.


CRUZ, Nina Velasco; OLIVEIRA, Elane Abreu de. O discurso do fim da fotografia com o advento do digital: considerações a partir de “A Última foto”, de Rosângela Rennó. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 32, set. 2009, Curitiba. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Disponível em: <www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/.../R4-2221-1.pdf>. Acesso em 21 set. 2010.

SBARAI, Rafael. A foto com a maior resolução da história. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/vida-em-rede/culturaweb/a-foto-com-a-maior-resolucao-da-historia-26-mil-megapixel/>. Acesso em 21 set. 2010.

Um comentário:

  1. Realmente é uma grande perda para o mundo fotográfico o fim do processo analógico, pois são 2 processos totalmente diferentes. Ao meu ver a fotografia analógica não morrerá, porém será restrita à artistas. O processo da fotografia digital será usado por amadores, fotojornalistas, publicitários. Sem comparação a emoção de ver uma fotografia sendo revelada no laboratório, dentro da bacia do revelador, e uma imagem sendo transferida da câmera para o computador...

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